terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Carta Para Júlia - por Delasnieve Daspet




Carta Para Júlia -  por Delasnieve Daspet*





Júlia, 

Ah! Júlia que espera que eu te diga? 
Que choquei-me com tua carta? 
Sim! Assustei-me, mas não a banalidade de um mero susto.. apenas o susto da responsabilidade que temos com os amigos, com os irmãos que vamos adquirindo durante o caminhar. 
Queria responder-te em PVT - mas noto que queres rasgar a fantasia e pisar no chão, com ambos os pés, sair da casca e começar a mostrar à Júlia que a vida é muito mais que fechar-se em lembranças; muito mais que tolher-se da felicidade... 
Sim, tolher-se! A felicidade nós a construímos no dia a dia. A cada momento. A cada hora. 
E tu, Júlia tens tanto! 
Tens - em primeiro lugar o teu talento - este talento que te fez continuar... é, continuar! Seguir em frente ainda que aos pedaços, ainda que lamentando com cada fibra do ser o ocaso de teus sonhos-Fernando! 
Mas, nessa dor que ainda guardas, só pensastes em ti. No egoísmo de teu amor-perdido, não pensastes um só momento que Fernando também sofre com tua desdita. Claro, eis que a morte não existe, é apenas a transposição de um estado para outro. 
Não vivestes, amargurastes o teu caminhar e claro, também a seqüência espiritual de Fernando - que certamente triste se encontra ao teu lado - esperando que voltes a sorrir e ver - em teus saltos de pára-quedas - a imensidão do azul que te abraça todos os dias. 
Olha o vento que sopra teu cabelo e que te faz sorrir - pensa que seja uma caricia que te vem de longe e transforma essa tristeza numa agradável lembrança. 
E a lembrança em esperança - pois que se a morte não existe - certamente haverá um outro momento para ti. Este pensamento sempre soe diminuir as tristezas. 
E pensa, também, no quanto és feliz - quem tem uma família maravilhosa como tu tens - seres que vieram para amenizar tua dor, perfumar tua existência com amor, nunca iriam magoar-se contigo... ao contrário, estarão sempre a postos para te abraçar e aconchegar em tuas necessidades. Ama-os e torna-os teus amigos sempre! 
Tua filha - pensa nela como a força que te foi enviada, o presente que te foi dado - a luz que te veio iluminar - mostrando-te que mesmo na incerteza, nas tristezas, a vida segue - e nada como uma criança para nos ensinar todos os dias as coisas que teimamos em esquecer. 
Amar? - como não podes mais amar ? Amarás sim, permita-te, entrega-te ao amor. Professe o amor. Trabalhe o amor. Trabalhe em ti. No teu crescimento. 
Procure alguém que necessite de tua força, velhos desamparados, crianças, entrega-te a um labor com todas as tuas forças e querer... o dia será curto para tantas atividades que irás arrumar. 
Quanto ao pai de tua filha - permita que ele seja pai. Fizeste-me crer - em tua carta - que absorves em demasia, juntamente com teus maravilhosos pais, a Adriana. Deixa-a voar um pouco, conhecer o pai. Exerça uma vigilância amorosa, gentil, amiga. 
Ela te será grata. uma criança precisa do pai - precisa da figura paterna até para um referencial futuro. 
Quanto a ti - saia da gaiola dourada que te metestes - saia, já! Lá fora brilha o sol, sorrisos, afagos, existem pessoas amigas, sérias, comprometidas umas com as outras... existe vida. 
E viver, Júlia, implica em responsabilidades contigo e com os outros. Mas, primeiramente contigo. Como poderás dar sem ter ? 
Os poemas que sacrificastes - queima-os no altar da saudade e escreve outros.. ou melhor, reproduza os que deletastes, eis que todos estão aí, dentro de ti, esperando apenas que lhes dê guarida e alforria. 
E lembre, a amizade é um perfume suave e imorredouro. Não existe distância, tempo, nada que a modifique. 
Saia, sorria, voe, viva! 
Vire a página e abra uma nova: A VIDA TE ESPERA! 
Um grande abraço da amiga 

Delasnieve Daspet 
12/09/04 - 00,30 hs 
Campo Grande/MS/BR 
http://www.usinadeletras.com.br/exibelotexto.php?cod=19561&cat=Cartas&vinda=S

*Delasnieve Daspet - Titular da Cadeira nº 1 da AFLAMS

Nenhum comentário:

Postar um comentário